segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Adolescência





Quando digo que a adolescência foi a pior fase da minha vida, quero dizer que foi mesmo! Foi a fase da raiva e da frustração a nível social e emocional. Mas, começando pelo princípio: quando tinha dez anos deu-se, com a entrada para o 5º ano, a primeira grande mudança: escola nova, turma nova, disciplinas novas, regras novas. Tudo isto só por si já é difícil de gerir, mas quando vem acompanhado pela rejeição por parte de uma colega em cujo entender eu "era muito lenta", o complicómetro entra em acção a 200 km/h!

Nessa altura a minha fraca autoconfiança estilhaçou-se e, como não soube digerir a questão, votei-me a um isolamento social muito pronunciado. Abespinhava-me com qualquer provocação, levava tudo a sério e durante muito tempo não deixei que ninguém se aproximasse nem me tentei aproximar. Foi a partir daí que comecei a questionar-me por que razão era sempre eu que ficava doente facilmente, por que razão me sentia sempre deslocada e diferente?

Refugiei-me na leitura e na escrita, como forma de me evadir de uma realidade que me desapontava todos os dias. Durante muito tempo faltou-me a capacidade social de comunicar com as pessoas (algo muito frágil ainda hoje) e emocionalmente vivi uma dura batalha comigo mesma à procura de respostas. Depois de um 2º ciclo complicado, o 3º também não começou nada bem, porque fiquei numa turma que não se poderia aplicar de turma, pois não passava de pequenos grupos de alunos enfiados na mesma sala de aula. E mais uma vez, eu estava deslocada, porque aquela era a pior turma da escola e eu era o género de menina calada e bem comportada na sala de aula, que não arriscava responder para não parecer tola; para além de que continuava a ter de faltar uma vez por mês para fazer o tratamento e, por vezes, para fazer exames e as minhas defesas ainda fraquejam muito.

Por essa altura, aos doze anos entrei em "guerra aberta" com a minha patologia. Durante algum tempo fiquei cega pela minha fúria obstinada contra a medicação preventiva que tenho de fazer todos os dias, porque pela perspectiva que tinha na altura, achava que "se não me cura, então não vale a pena"e recusava-me frequentemente a tomar os medicamentos. A minha mãe chegou a levar-me a um psicólogo, embora  não tenha surtido efeito, porque  eu queria a compreensão dos meus pais, não de um estranho qualquer que tentava analisar-me como se eu fosse um manuscrito antigo. Esta "guerra" resultou numa pneumonia grave aos treze anos, mesmo antes de iniciar o 8º ano. O que mais me irritou nessa altura nem foi ficar doente (embora isso me frustrasse), mas sim a condescendência da médica das urgências para comigo, a dizer que seriam apenas dois dias, quando eu sabia perfeitamente que seria mais tempo. Fiquei uma semana e meia internada.

Depois desse último episódio de internamento, talvez no ano seguinte, a minha oposição aos medicamentos começou a esmorecer e esforcei-me por perceber de que se tratava a minha doença. No entanto, foi apenas durante o ensino secundário que me apercebi que não era assim tão diferente das outras pessoas da minha idade: tinha apenas de aprender a conviver com o meu pequeno defeito patológico. Foi nessa altura que saí da concha e comecei a dar-me mais com as pessoas e a sentir-me uma pessoa normal, dentro do possível, porque há sempre momentos de fragilidade e dúvida, há sempre uma réstia de insegurança que não desaparece.

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